04/08/17

Maduro e a Revolução Bolivariana. Os caminhos negros do poder absoluto e da repressão.

A situação politica e social na Venezuela concentra por estes dias todas as atenções. Maduro, o actual Presidente do País, assumiu-se desde sempre como o sucessor de Hugo Chavez, que se tornara um ícon daquilo que foi por muitos chamado o Socialismo do Século XXI. Esse Socialismo do Século XXI - que conviveu bem com o lado dinástico que rodeou a [ entendidas como tal] sucessão de Chavez - deve muito do seu prestígio ao facto de ter promovido uma politica de redistribuição da riqueza que permitiu retirar da miséria vários milhões de pessoas. No essencial Chavez utilizou as rendas do sistema petrolífero para promover a acção social do Estado. Convenhamos que não se tratou de coisa pouca num país que, detendo riquezas naturais de uma dimensão enorme, era um dos mais desiguais do mundo. Tanto mais que por todo o lado o neoliberalismo promovia, sob o alibi do "controlo do défice" e de "contas públicas equilibradas",  a retirada do Estado da economia e o emagrecimento do Estado Social.
 Chavez utilizou também esses recursos para promover uma acção internacionalista apoiando países como Cuba, que estava sob a pressão do bloqueio americano.

Já muita gente reflectiu e escreveu sobre a inviabilidade do modelo de desenvolvimento centrado apenas e só nas receitas do petróleo.

Mas não é isso que está agora em questão. Trata-se apenas e só, do ponto de vista da esquerda, de saber qual o posicionamento face ao que se está a passar.

Maduro revelou desde o início não ter o talento politico de Chavez, mas, provavelmente, ultrapassa-o no apego pelo poder que o faz não olhar  a meios para atingir os seus fins. Maduro tem uma perspectiva anti-democrática do exercício do poder como mostra com esta sucessão de golpes com os quais pretende revogar a Constituição e fazer eleger uma nova Constituinte. Um processo fraudulento desde o seu ínicio. Um processo anti-democrático que visa, apenas e só, manter o poder sob o seu controlo  e dos seus apaniguados. Como denuncia o sociólogo Edgardo Lander, Maduro governa à revelia da vontade popular, cuja possibilidade de expressão impede. Maduro governa sistematicamente em estado de emergência. A trapaça anti-democrática de Maduro é uma acção contra a democracia e contra a esquerda, que deve ser por ela denunciada. O PCP, infelizmente, mostra, mais uma vez, que nesta matéria das simpatias internacionais  pode sempre fazer pior.

O movimento liderado por Maduro apenas pode invocar em sua defesa a ingerência do "imperialismo americano" e da "União Europeia", argumentos que não carecem de qualquer demonstração, para serem imediatamente utilizados pelos intelectuais chavistas, como é o caso de Boaventura Sousa Santos. O facto de a Assembleia Nacional estar dominada pela oposição parece ser um argumento válido, segundo o professor de Coimbra, para que um Presidente a possa dissolver, e convocar uma Assembleia Constituinte. Esta correlação fundamenta-se noutra: oposição rima com imperialismo americano. Trata-se de uma lógica binária em que de um lado estão os bons e do outro os maus, sendo que os bons podem, por terem o poder,  eliminar os maus. Sempre em nome do povo.

Chavez foi várias vezes desafiado em eleições. Ganhou quase sempre, mas também perdeu. Maduro tem manifestado uma crescente alergia ao normal funcionamento da democracia e, mais recentemente, entendeu que pode por sua pura e simples decisão alterar as regras do sistema politico visando apenas e só perpetuar-se no poder. São chocantes as trapaças introduzidas no sistema eleitoral para favorecer os seus apoiantes.

Uma retórica anti-imperialista, o argumento, repetido ad nauseum, do imperialismo americano e da sua ingerência - como é denunciado no artigo acima linkado os Estados Unidos são o maior parceiro comercial da Venezuela -  a identificação dos opositores com essa ingerência imperialista, criam as condições para legitimar o abuso do poder e justificar a violência que hoje manieta a Venezuela. Prender os opositores, levando-os para parte incerta, é um tipo de actuação politica que nos lembra os tempos do fascismo e que não pode servir de inspiração para ninguém que se identifique com a esuqerda. Uma única certeza emerge deste desastre na Venezuela: Maduro está a atirar o país para os braços da direita onde ficará por muitos anos, com todas as consequências sociais que os mais pobres irão pagar. O imperialismo americano agradece.



1 comentários:

Anónimo disse...

"O facto de a Assembleia Nacional estar dominada pela oposição parece ser um argumento válido, segundo o professor de Coimbra, para que um Presidente a possa dissolver, e convocar uma Assembleia Constituinte."
Boaventura não disse que a legitimidade vinha do facto de a Assemblei Nacional estar dominada pela oposição mas sim que a legitimidade venha da constituiçaão. Depois admite que os cidadãos podem pôr em dúvida a oportunidade...
E qual a legitimidade para Obama declarar a Venezuela uma ameaça á segurança dos Estados Unidos? Não parece ridículo? E não teve consequências?
Finalmente poderá dizer-se que Boaventura é chavista?