15/04/18

Quando o Governo de Portugal e o seu Presidente da República seguiam incondicionalmente o Engº António Guterres.

Julgo que a eleição de António Guterres para Secretário Geral da ONU terá sido o momento de maior convergência entre o Governo do PS, viabilizado pelas esquerdas, e o Presidente da República, eleito pela união da direita política com a sua ampla base mediática.
Muito mais do que o controlo do défice e a manutenção de uma austeridade quanto baste, que o Presidente sabe que se deve sobretudo ao crescente peso político e à progressiva autonomia de Centeno, foi a eleição do engenheiro que suscitou maior convergência entre Belém e S.Bento.

Passado muito pouco tempo dessa eleição, o bombardeamento da Síria pela Troika de agressores internacionais, tornou-se o  momento de maior afastamento entre ao actores políticos locais e o engenheiro global.

Augusto Santos Silva veio afirmar que "Portugal compreende as razões dos ataques lançados pelos amigos"ao mesmo tempo que, num momento digno da melhor diplomacia da irrelevância, declara a firme vontade do Governo "evitar qualquer escalada no conflito sírio, que gere ainda mais insegurança,  instabilidade e sofrimento na região". Apetece perguntar a Santos Silva, o "augusto ministro": importa-se de repetir?

António Guterres está isolado na cena internacional. Os seus apelos ao diálogo e à cooperação não são escutados por ninguém. Portugal, como habitualmente, alinha com a maioria dominante, tentando agradar a todos, mas procurando distinguir sempre quem são os vencedores. O engenheiro, a fazer um mandato dificilimo, num contexto internacional marcado pela ascensão/consolidação de vários inimigos da democracia  - Trump e Putin, entre outros - tem mostrado que não é o poder dos beligerantes que o condicona. Não faz como Portugal que parece atender sempre ao sentido em que sopram os ventos. Guterres apelou à necessidade de alcançar compromissos e a propósito dos ataques químicos apelou às autoridades internacionais para que implementassem um mecanismo de atribuição de responsabilidades. Em vão.

Na reunião do Conselho de Segurança da ONU que se seguiu ao ataque,  Guterres não caiu na subserviência lusa de "compreender" os nossos amigos e as suas barbaridades. Antes pelo contrário, apontou o dedo aos membros do conselho de segurança responsabilizando-os pela incapacidade de actuarem de forma a estabelecer uma efectiva responsabilidade no uso de armas químicas na Síria. Ao mesmo tempo exigiu contenção a todos os estados membros. Está a falar para a parede. Mas não o podem acusar de ser uma marionete nas mãos de Trump ou de Putin.

Entretanto, no mesmo dia dos ataques - que segundo os agressores eliminaram o potencial químico sírio - chegaram à Síria os agentes da ONU para investigar a utilização de armas químicas em Douma. Disse Guterres que "As alegações recentes em Douma precisam de ser analisadas através de especialistas imparciais, independentes e profissionais. Estou confiante de que seremos bem-sucedidos, sem qualquer restrição ou impedimento nas nossas operações."

Uma tarefa muito facilitada pelo ataque dos três do costume como qualquer especialista em relações internacionais nos poderá esplicar.

Noutros países, com destaque para o Reino Unido, as vozes da oposição manifestam-se questionando a intervenção da senhora May. O que está em causa é a falta de aprovação prévia pelo Parlamento e a justificação da intervenção no quadro da legalidade internacional. Para isso duas razões são apontadas: existir uma deliberação do conselho de segurança da ONU, ou actuar em legítima defesa. Corbyn defendeu mesmo a necessidade de instituir um  "War Powers Act " que seja uma condição sine qua non para o Governo poder iniciar ou participar numa acção militar. A posição do líder trabalhista é partilhada pela líder do Governo escocês, Nicola Sturgeon.

Por cá apenas a esquerda - PCP e BE - que suporta o Governo se manifestou contra a intervenção.

1 comentários:

Niet disse...

A narrativa " ocidental " dos bombardeamentos de 3-três-sitios-3 hipotécticos de fabricacäo de armas quimicas sirias pela triade liderada pelos americanos é posta em causa por Emmanuel Todd numa entrevista dada à France Inter no passado sábado.O politologo frisa mesmo que os ataques visaram " imóveis vazios ", acrescentando que a Russia e os seus aliados- Assad e Iräo mais milicias chiitas diversificadas- ganharam a guerra. Todd aponta que a Russia de Putin - com um escol de diplomatas e estrategos muito bons e superiores aos dos seus opositores ocidentais- conseguiu chegar à paridade com o nivel tecnologico de qualificacäo militar dos EUA, o que garante um equilibrio de poder e moderacäo entre rivais. Por outro lado, o PR francês Macron assegurou numa entrevista-fleuve com Plenel e Bourdin, dois jornalistas desalinhados do Poder politico dominante, que foram 3 os " sitios " de manufactura bélica quimica a serem visados...O que nos revela, subliminarmente, para a constatacäo incontornavel e sibilina do falhanco da operacäo atlantista. O PR gaulês näo iludiu mesmo nada e solicitou conversacöes imediatas com Poutin e Erdogan para consumar o novo quadro politico-estratégico da Siria e do Próximo Oriente, clarissimo. Parece ser um factor táctico capital o grande desempenho realizado pela defesa anti-aérea siria que averbou uma vitória clamorosa no terreno, pois, dos 103 a 107 misseis de cruzeiro disparados dos aviöes e fragatas ocidentais 70 por cento foram abatidos. Macron disse mesmo que näo houve feridos...Niet
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